Mune ga hachikire-sode
06 de Abril de 2025
Há uma imagem que nunca sai da minha cabeça. Eu me despeço dele na plataforma de trem, ainda vestindo o seu paletó. Quando o devolvo, penso que ele vai vesti-lo de volta, mas ao invés disso, ele o coloca sobre os ombros e me dá um abraço de adeus que poderia ter durado horas. Entro no trem e me sento de frente a ele, que me observa do lado de fora, então eu cruzo as pernas, decidida, e sorrio para ele enquanto o encaro. As portas se fecham, ele não desvia o olhar. O trem anda e seus olhos me seguem, continuam em mim até que eu o perca de vista. Meu sorriso vai embora.
Se algum dia eu critiquei Bella Swan e todas as protagonistas de livros de romance que em tão pouco tempo tornavam-se obcecadas com seus respectivos interesses românticos, eu peço agora minhas sinceras desculpas, eu não sou melhor do que elas.
Ninguém nunca me contou que ter o primeiro amor de todos já adulta seria tão sufocante. Sinto-me uma adolescente, é como se não conseguisse pensar em outra coisa, não importa o quanto eu tente. O frio na barriga sempre que imagino estar com ele me mata toda vez. Estou cega e odeio esse sentimento, odeio de verdade, eu me tornei tudo o que jurei destruir. Não quero. Não quero. Não quero. Detesto ter a minha mente dominada pelo coração. Mas eu não posso lutar.
Esqueçam toda a baboseira que eu escrevi no texto anterior, cinco meses atrás; a pessoa que me chamou atenção de verdade foi outra. Que se dane o carinha do ukulele, eu queria era a atenção daquele garoto alto de enorme sorriso que nunca olhava para mim.
Ele ria e se divertia junto aos outros, muito mais extrovertido do que eu, que permanecia sentadinha no mesmo lugar e tentava engajar com as meninas. Quieta, porém observadora, em pouco tempo descobri que ele participava de um grupo de dança; ele parecia tão legal. Tão legal, mas tão inalcançável. Olho para as fotos que tiramos em grupo nesse dia e rio igual uma idiota vendo nós dois, um em cada canto, e penso: "Quem diria?".
Nossa primeira interação oficial foi alguns meses depois, na festa de aniversário da nossa amiga. Meu cordão de luzinha que piscava de repente havia parado de funcionar e ele arrumou para mim. Foi isso.
Nos vimos pela terceira vez no Natal, na casa dele. Era estranho que o dono da casa fosse justamente a pessoa ali com a qual eu tivesse a menor afinidade, nós nos conhecíamos mais através de outras pessoas do que de nós mesmos. Naquele momento, eu estava em outra, preocupada em demasiado com um sujeito que me entregou uma cartinha no ônibus. Falamos sobre isso e sobre muitas outras coisas e nossa interação foi incrivelmente divertida, como um amigo gay querendo saber as fofocas do boy de sua amiga. De repente, aquele não era mais um conhecido, era um amigo muito querido.
Até que no dia seguinte, em forma de brincadeira, eu deixei ele deitar nas minhas coxas, por que não né? Fiz carinho no cabelo dele e ele me disse: "Não faz isso, se não eu me apaixono", e é claro que quem se apaixonou foi eu.
A gente flertava de brincadeira, mas era tudo brincadeira, ele mesmo me dizia, e estava tudo certo. Era só como amizade, ok. No final do dia, antes de irmos embora, ele me chamou no canto e me disse o quanto eu tinha sido incrível e como ele estava feliz com a minha presença. Eu nem sei o que eu fiz para ele ter gostado tanto de mim assim. No final, fui embora da casa dele e tive a proeza de esquecer meu chinelo lá, tal qual a Cinderela esquecendo o sapatinho de cristal. Ele insistiu em me devolver no dia seguinte, mas no fim eu disse a ele que não se preocupasse. Até hoje não vi mais aquele chinelo.
[Texto inacabado]
Nesse exato momento eu escrevo esse texto enquanto adio responder suas mensagens. Não é que eu não queira responder, mas como eu é que eu poderia corresponder à altura de seu jeito tão carinhoso? Me sinto tão tola. Meu coração está prestes a explodir.