Emoções

03 de Novembro de 2025

Estou lutando contra mim mesma porque não sei se quero escrever.

A Day sempre me dizia que eu devia colocar minha emoções no papel (metaforicamente) quando elas estivessem tão intensas ao ponto que guardá-las em minha cabeça somente me deixaria pior. Como eu poderia fazer isso se não faço a mínima ideia por onde começar? ... Por tópicos? Ou usar o método que eu odeio em minhas sessões de terapia, onde conto sobre a minha semana superficialmente sem conseguir elaborar o suficiente sobre os itens que tanto me atormentam?

Vou contar sobre como o meu final de semana foi exaustivo, porque passei dois dias longe de casa em um ambiente estranho com pessoas da qual ainda não criei intimidade. Sou um peixe fora d'água que não quer passar má impressão, eternamente com medo de que tenham uma imagem negativa de mim, uma pessoa antissocial que pensa demais e fala de menos.

Enquanto o Eros me deixava e ia fazer companhia a um amigo em outro cômodo, criei coragem e consegui puxar assunto com a irmã de outro amigo dele. Nós conversamos sobre Paramore e toda a retórica por trás do último álbum solo da Hayley Williams e me senti realizada por finalmente não me apegar ao sentimento de abandono que aquilo normalmente me traria.

O sábado foi um dia bom. No geral, pelo menos. Poderia ter sido muito melhor sem a presença do namorado dela.

A irmã do amigo bebeu demais e foi dormir no quarto onde ficaríamos, mas infelizmente precisávamos entrar lá de vez em quando, afinal nossas coisas estavam todas lá. Ela dormia igual uma pedra e o irmão dela nos disse para não nos incomodarmos, porque ela não ia acordar tão fácil. De fato não acordou, porém nosso erro foi a falta de noção, e eu admito que faltou mesmo, mas isso não justifica muito o que aconteceu.

O Eros estava com fome e esquentou uma lasanha no microondas. Em casa temos o costume de comer na cama mesmo, porque eu não tenho mesa. Então lá no quarto, enquanto eu e uma amiga dele conversávamos, ele se sentou no colchão em que eu estava e começou a comer. Tudo isso ao mesmo tempo em que a irmã do amigo dele tirava um ronco pesado na cama de cima do beliche. O namorado dela chegou lá e nos deu um esporro, pedindo para a gente sair dali e completando com algo como: "Eu não entendo porque a pessoa vai comer no colchão se tem uma mesa logo ali!" apontando para a cozinha ao lado, mas sem falar com o Eros diretamente. Isso o deixou bem mal e eu tentei consolá-lo da forma como pude, mas é complicado. Pouco depois, nós dois nos esgueiramos na varanda e ouvimos o sujeito lá embaixo, claramente tendo bebido várias, debochar dos "jovens de hoje em dia, que não fumam, não bebem e não vão trabalhar de ressaca no dia seguinte".

O domingo tinha tudo para ser um dia tranquilo. Pela manhã tomamos café e ansiávamos por um sol que no fim nunca apareceu, nos impedindo de entrar na piscina. Eu, sentada à mesa, esperava o Eros terminar de comer seu pão enquanto as pessoas da casa iam saindo de seus quartos e se preparando para tomar café. O namorado da irmã saiu do quarto e pediu para que eu desse o lugar para ele sentar, então eu levantei numa boa, como já tinha terminado o meu café.

Exceto que não foi assim que aconteceu, mas poderia ter sido.

Ao invés disso, o que de fato ocorreu foi que ele passou por mim e disse, aumentando a voz, passivo-agressivo: "Quem já terminou de comer pode dar o lugar para quem não tomou café ainda, né".

Eu entrei na defensiva e me levantei na mesma hora, indo na direção do quarto, mas eu não consegui ficar calada, porque não era justo ele falar daquela maneira comigo, ele não é melhor do que eu. Eu disse numa voz trêmula: "Você pode falar pra mim diretamente, eu saio numa boa, não precisa falar assim, não. Eu sou a única pessoa que terminou de comer aqui". E ele tentou se defender dizendo que eu não era a única pessoa que tinha terminado. De fato, não era, porque logo depois fiquei sabendo que o Eros também já estava acabando e só bebia um refrigerante, mas aquilo não justificava ele usar aquele tom conosco.

O Eros me seguiu até o quarto e eu devo ter ficado mal por horas, com uma exaqueca a qual parecia não ter fim se instaurando na minha cabeça. Às vezes eu sinto as coisas com muita intensidade e eu odeio como não consigo me desvencilhar disso. Parece que eu estou para sempre condenada a ser escrava de meus sentimentos, não importa o quanto ilógica a situação seja.

Outro dia eu fiquei chateada porque o Eros não comprou um capuccino de R$1.90 para mim. Um capuccino num copo minúsculo que eu em momento algum disse que gostaria que ele me comprasse, mas de alguma forma esperava que ele adivinhasse isso. Quer dizer, fazia sentido na hora, já que eu expressei nos últimos dias que sentia falta de tomar café, e desejava que ele ligasse os pontos, mas as coisas não funcionam bem assim. As pessoas não funcionam assim, e eu devia saber muito bem que especialmente o Eros não funciona assim. Então ao invés de dizer algo, eu respondo as mensagens dele em tom seco e só percebo o meu erro quando ele me questiona e eu finalmente conto como estou me sentindo.

Não tem como negar que eu tive muita sorte, porque qualquer um no lugar dele ficaria bravo e perderia a paciência comigo, mas de alguma forma ele entende e me repreende quando começo a culpar a mim mesma por ter me importado tanto com algo tão pequeno que só fazia sentido na minha cabeça. Ele diz que eu não consigo controlar o que eu sinto, porque isso não é algo que se controla, mas eu queria tanto conseguir controlar. É tão difícil. Eu gostaria que a minha mente não funcionasse dessa maneira. Quando eu digo isso a ele, ele fala que se sente da mesma forma, mas não é a mesma coisa. Ele tem justificativa para a cabeça dele ser do jeito que ela é. Eu não tenho.

Então no domingo eu me isolei. Estava na presença das outras pessoas, mas fazia o possível para não socializar. Todos se juntaram para assistir ao episódio novo do RPG que estávamos acompanhando, mas eu não me senti à vontade para participar. Eu e o Eros ficamos sozinhos em outro canto e eu não pude deixar de me sentir culpada por estar, de certa forma, o impedindo de estar com os amigos dele, mesmo que isso tenha sido totalmente sua escolha e que eu em momento algum tenha feito esse pedido a ele.

Novamente volta a mim o sentimento de ser uma presença negativa por não engajar com o resto do pessoal, e outra vez voltamos ao loop eterno da paranoia e insegurança.

E é aí que eu esqueço que as pessoas gostam sim de mim, mesmo quando eu coloco na cabeça que eu estou fazendo algo errado e afastando a todos. E é aí que eu me esqueço da Anna me consolando no quarto após aquele imbecil ser passivo-agressivo comigo na cozinha. Ou o Derick me entregando a mesa digitalizadora velha dele totalmente de bom grado depois de eu mencionar que a minha não estava mais funcionando. Ou até mesmo quando o Kayn diz pra mim que tem medo de eu pensar que ele não gosta de mim, mas que ele gosta de mim sim.

Às vezes eu deveria pensar menos.