Resenha: A Mulher em Mim, por Britney Spears

02 de Abril de 2024

★★★★☆

Nunca havia lido uma biografia antes dessa, logo não é um gênero do qual estou familiarizada, mas sabendo disso, ler sobre toda a trajetória da Britney foi muito bom.

Eu já sabia de algumas coisas que ela tinha passado por ter assistido ao documentário lançado em 2021, da época em que ela ainda lutava contra a curatela - o Framing Britney Spears, mas finalmente saber sobre essa história pela própria Britney foi extremamente necessário. Sinto que ela sempre foi tratada como uma espécie de personagem na mídia, não como uma pessoa real com sentimentos, e deve ser tão tão libertador para ela finalmente poder contar sobre a vida dela como realmente foi.

O livro começa já na infância dela e conta todo o processo de sua carreira, logo de cara eu senti falta de algumas coisinhas, como falar sobre como a Jive Records fez com que ela usasse uma técnica que danificou tanto a voz dela, ou também sobre como foi criar alguns álbuns como o Oops! e o Femme Fatale. Será que um volume 2 tem chances de vir aí?

Como ela mesmo fala, ela ainda é aquela "garota do Mississipi", que por tempo demais não pôde viver como uma mulher com autonomia própria - o que inclusive dá o título do livro. É impossível ler essa biografia sem sentir um tremendo ódio, não só pelo pai e família dela, como com todos aqueles ao redor que não fizeram nada, todos os paparazzi e a mídia que por tanto tempo desrespeitaram ela, como se a Britney fosse somente uma figura de papelão que estivesse ali para usar sua imagem em benefício de todos (mas nunca dela mesma).

É revoltante de verdade que, no fim, é como se nunca tivéssemos saído da idade média, quando as mulheres eram queimadas na fogueira sem ter chances de se defender, ou ainda, da época em que mulheres eram consideradas "histéricas" e internadas em hospícios, tendo suas autonomias revogadas por terceiros. Pode parecer dramático, mas não é, isso não difere tanto do que fizeram com ela não.

Quando se trata de homens na vida da Britney, é sempre ela a vista como a errada. Quando ela e o Justin Timberlake terminaram, ela que era a monstra que traiu ele. Quando o Kevin Federline a impediu de ver os próprios filhos, era ela a louca que raspou a própria cabeça. E por que, gente? Por que é que implicavam tanto com ela? Por que ela deveria ser sempre a responsável por tudo? A mulher não teve paz sua vida inteira.

Eu li esse livro em português, então é inevitável que algumas coisas se percam na tradução, mas ouvi de muita gente que, apesar de com muita certeza ele ter sido escrito com a ajuda de um ghostwriter, a voz da Britney é plena, como se ela de fato estivesse contando a história ela mesma. Tendo um ghostwriter ou não, esse é um detalhe positivo e importantíssimo. Ela precisa ser ouvida pela própria voz! Ela merece isso demais.

É um livro, bom, necessário kk. Agora ela é quem tem o controle sobre sua própria vida, e o que ela vai fazer daqui pra frente cabe somente a ela enfim. Mal consigo imaginar o alívio que ela deve estar sentindo, ela é uma mulher muito forte e sua história deve servir de inspiração para muita gente. A forma como ela tratou sobre os fãs foi muito legal, dá para ver o quanto ela tem carinho por eles, o #freebritney sem dúvidas significou demais para ela também e isso é incrível de se ver.

É isso, vamos deixar a Britney em paz.